Célula Ativa

Porque somos como células e porque estou sempre (sempre) na ativa.

28.4.07

Último poema sobre dor e solidão

Último poema sobre dor e solidão:

Apontamentos sobre a cronologia do sofrimento

I

Sentindo como se me faltasse alguma coisa.
E esta coisa que me falta não se compra no mercado, nem na boca.

Há noites em que esta falta que me faz fala mais alto que qualquer força de vontade.

II

A verdade também é que a dor também é reconfortante.
Nos conhece bem.
Soa bem essa melancolodia.
Gosto do jeito como ela metodicamente põe o disco, acende a vela, porta a mesma roupa...

E agente vai se encolhendo na cama e se apertando e remoendo situações, hipóteses e sonhos cuja saudade a manhã traz.

Essa falta que às vezes me faz.

III

Depois penso nos enfermos, nos refugiados, nos mendigos de rua, na ordem mundial e vejo que não se deve chorar à toa.
O bom e necessário é ter alegria no coração e lembrar que existe o jazz e as piadinhas improvisadas.
Já ouviu falar do ensinamento budista de que o sofrer é fruto inexorável do desejo?... não desejar significa se libertar.
Fato!
Salve a Santa Abstinência.

IV

Sinto que meu lirismo juvenil está com seus dias contados. Tudo o que era obscuro ficou claro. Toda preocupação se esvaiu. Todo pranto secou. Toda sensibilidade amadureceu. Agora sei que fases são fases transcendíveis. O que fica é a calma. A impassível calma dos idosos.
Letras de música e poemas que antanho figuravam em minha bandeira são agora disparates aos meus novos olhos. Não almejo mais fama, satisfação, carinho ou qualquer coisa desejável. Minha única coisa valiosa é o presente e os meus novos olhos. Meus novos olhos impassíveis e humildes.